terça-feira, 4 de maio de 2010

A missão nas grandes cidades

Em sua obra ‘Viver na cidade – Pistas para a pastoral urbana’ José Comblin faz um estudo acerca dos desafios de evangelização nas grandes cidades e busca uma compreensão do processo de urbanização, tentando olhar a cidade em seus aspectos positivos e apontando os principais desafios da pastoral urbana.

Em primeiro lugar discute as reais motivações que levam as pessoas a deixarem o campo e emigrarem para a cidade, visto que segundo ele as razões aparentes nem sempre são as razões verdadeiras, mais profundas que até mesmo inconscientemente impulsionam as pessoas.

O eu significa a cidade? A cidade é movimento, novidade, dinamicidade. Entrar nesse ritmo significa quebrar padrões pré-estabelecidos e construir a própria existência, isso causa certa sensação de libertação. Os meios de comunicação mostram tudo que a cidade tem a oferecer numa espécie de encantamento.

As estruturas da vida social no campo são extremamente rígidas, pesadas de serem cumpridas e nem sempre vividas por convicção, mas por tradição. A família, a moral, a austeridade, o trabalho árduo e uma serie de outros fatores fazem com que muitos jovens deixem o campo por não agüentaria esse sistema de dominação. Os sonhos de liberdade levam os jovens para a cidade onde sonham em poder ser o que quiserem. Ainda que a vida na cidade não seja um mar de rosas as pessoas preferem suportar os problemas que cumprirem por obrigação a vontade de outros.

No entanto, à medida que os esquemas do campo vão desaparecendo outras formas de dependência vão surgindo dentro da vida na cidade, sujeição aos donos do trabalho, dos proprietários das casas e favelas, e as novas autoridades que vão se impondo nos bairros, como por exemplo, os narcotraficantes e ainda que aparentemente sejam problemas mais graves parecem ser mais toleráveis.

A Igreja católica e as Igrejas Cristãs históricas parecem ter certo receio desse movimento de urbanização. A tentativa de frear o processo pode estar ligada a uma série de ideais, primeiro a idealização da vida monástica no período patrístico, o sentido de fuga do mundo para o encontro com deus na solidão, depois o papel social que representam o padre e o pastor no campo que é extremamente distinto na cidade, depois a cidade vive da transformação, da criatividade, da novidade e a burocracia clerical teme não ser capaz de recriar e reinventar, seria como ter que entrar na competição e os líderes clericais são formados para administrar e não para conquistar ou para criar. Por isso o discurso é tão ultrapassado, colocando a cidade como lugar de perigo a fé genuína e como lugar de pecados, a partir daí podemos entender porque a estrutura paroquial tende a se tornar homogênea, uniforme e tradicional reproduzindo a vida camponesa.

Se o convívio com a natureza nos aproxima de Deus também a cidade é espaço dessa relação entre homem e Deus porque nos revela o maior desafio para nós cristãos o espaço de encontro com o outro, sobretudo o marginalizado e excluído, o convite a ser o bom samaritano.

A própria experiência paulina nos mostra que é bem mais fácil evangelizar a cidade que o campo, visto que o campo está mais preso às tradições e costumes e a cidade mais aberta e receptiva ao novo. Sem contar que ser cristão no campo nem sempre pressupõe liberdade de escolha, ou se assume por tradição e costume ou por falta de opção mesmo.

Cleto Caliman escreveu um artigo bastante interessante ‘A Evangelização na cidade hoje – Algumas reflexões pedagógico-pastorais’, onde traz discussões sobre esta temática da presença da Igreja e sua missão nos grandes centros urbanos e começa fazendo memória de Santo Domingo que fala da importância da Igreja inculturar o evangelho na cidade e no homem moderno.

Segundo ele a Igreja não pode mais organizar sua pastoral baseando-se na cidade tradicional tricêntrica: ao redor da Igreja, da praça e da moradia, a moderna é policêntrica definida por interesses, os mais variados: economia, política, cultura, religião, lazer e etc.

A própria religião se encontra numa nova configuração nos centros urbanos, enquanto na sociedade tradicional tem a super valorização das instituições, na sociedade moderna são valorizados os espaços de experiência subjetiva das pessoas que buscam cada vez mais religião sem Igreja.

Quais seriam então os desafios que se apresentam?

O primeiro seria a dificuldade de gerar a experiência da fé eclesial, isso se dá devido a duas grandes rupturas: a 1° porque a experiência tradicional da fé não consegue mais transmitir seus valores as novas gerações. Não consegue reproduzir. Segundo a ruptura entre religião e Igreja, a fragmentação cultural favorece fundamentalismos dentro e fora da comunidade eclesial.

O autor também discute uma questão fundamental a meu ver sobre o impasse da comunicação na Igreja. Embora seja a Igreja essencialmente comunicação, porque vive do anúncio da palavra, esta é uma das áreas que mais se transforma na sociedade moderna e a Igreja utiliza modelos inadequados à atual sociedade das informações.

Como agir então?

É preciso estar atento num primeiro nível a duas realidades: a emergência da subjetividade e a participação das pessoas. A pastoral deve estar atenta a experiência subjetiva da fé dos fiéis, ao primado da consciência e a ligação entre fé e vida cotidiana.

Num segundo nível é importante gerar novas formas comunitárias de vida Cristã, adequadas ao pluralismo das cidades, sem cair no erro de polarização CEBs X movimentos e etc. Além disso é necessário uma reforma no sistema paroquial e a mudança nas relações.

Terceiro nível a Igreja precisa ser visualizada dentro do cenário urbano pós-moderno, não nos moldes da cristandade, mas como sinal profético, como acontecimento libertador e sinal do reino de Deus.

Síntese elaborada por frei Wesley Dias Santos, estudante do 7° semestre de teologia.

Um comentário:

  1. O tema foi abordado de maneira muito pertinente, vejo um grande avanço nessa busca de atualização da mensagem salvação. sabemos que é míster a busca de uma linguagem que atinja aos diversos segmentos da sociedade, uma evangelização que possa atingir o coração da pessoa humana, em sua plenitude. Grande desafio, mas creio que os passos, estãos sendo guiados pelo discernimento do Espírito Sto

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